sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

UAB Recebe visita

28 Janeiro 2011

coordenadoras_ufrgsNa tarde de ontem a Universidade Aberta do Brasil (UAB), Polo de Faxinal do Soturno, recebeu a visita das professoras Eliane Moro e Lizandra Brasil Estabel, ambas coordenadoras do curso de extensão Mediadores de Leitura na Bibliodiversidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Durante a visita, onde foi recebida pela coordenadora do Polo, Eliana Parreira, foi feita uma avaliação do curso desenvolvido no município. Na ocasião as coordenadoras manifestaram o desejo de realizar novas edições do curso na cidade, bem como trazer novos cursos para a UAB de Faxinal do Soturno.

Antes de encerrar a vista, as coordenadoras da UFRGS se reuniram com a coordenadora do Polo, com a tutora, Raquel Friedrich, e algumas alunas, para agradecer o empenho da equipe na aplicação do curso no município, além de destacar pontos relevantes das aulas, buscando melhorias para as próximas edições.

Atividade Presencial do curso Mediadires de Leitura

UAB promoveu encontro

Com diversas atividades realizadas durante todo o dia na Câmara de Vereadores, foi encerrado ontem o curso de extensão Mediadores de Leitura na Bibliodiversidade da Universidade Aberta do Brasil (UAB) de Faxinal do Soturno.


Ofertado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), através da Secretaria de Educação a Distância (SEAD) e do Grupo de Pesquisa LEIA (Leitura, Informação e Acessibilidade), o curso teve o objetivo de oportunizar a reflexão e o debate relacionados à dinâmica da mediação da leitura em sala de aula, na biblioteca, na família e em outros espaços comunitários, envolvendo crianças, jovens, adultos e idosos, leitores, neo-leitores e não leitores. No total 35 alunos participaram das aulas realizadas no Polo da UAB de Faxinal do Soturno.

Para a abertura da solenidade de encerramento do curso no município, foram convidados para compor a mesa o prefeito de Faxinal do Soturno, Clovis Alberto Montagner, a secretária municipal da Educação, Ávida de Fátima de Oliveira Brondani, a professora da UFRGS, Bernadete Pase, a coordenadora do Polo da UAB, Eliana Parreira, a tutora, Raquel Friedrich, e a vereadora Rosângela Bastiani, representando a Câmara de Vereadores.
Um dos destaques da abertura foi à execução do hino nacional ao som do saxofone de Valcir Graebner, do município de Agudo, que também executou outras músicas e mostrou todo o seu talento durante a cerimônia. Em seguida iniciaram as apresentações de trabalhos, vídeos, projetos e debates. Para os alunos que completaram o curso, serão entregues no mês de fevereiro os certificados de conclusão.

O curso de extensão Mediadores de Leitura na Bibliodiversidade foi realizado em 18 municípios do Estado, divididos em cinco módulos e com carga horário de 90h.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Projeto de Leitura

PROJETO DE LEITURA Ler é bom, experimente!

Disciplina: Curso de Extensão Mediadores de Leitura na Bibliodiversidade

Professora: Bernardete Meneghetti Pase

Alunas: Cassiana Somavilla, Daiane Fagan, Denize Rangel, Eliana Parreira e Giana Somavilla.

Público Alvo – Alunos de 1º ao 5º ano da Escola Municipal Castro Alves

Período de Realização – Ano letivo de 2011


Objetivo Geral – O objetivo maior deste projeto é estimular nos alunos o gosto pela leitura, ampliando o seu repertório cultural a fim de sensibilizá-los e capacitá-los para a importância da aquisição de hábitos de leitura.


Objetivo Específico

- Estimular nos alunos o comportamento leitor e escritor;
- Ampliar o repertório com vistas às produções escritas;
-Desenvolver diferentes propósitos de leitura;
-Trabalhar linguagem escrita e produção de texto;
-Estimular a produção de texto oral com destino escrito;
-Identificar as características de diferentes gêneros textuais.

Problematização - A escola não dispõe de um espaço adequado para a prática da leitura. Esta deficiência acarreta um baixo rendimento na aprendizagem. A partir desta realidade, pensou-se em um projeto para introduzir a leitura em sala de aula e modificar esta realidade, tornando-a uma ferramenta fundamental para a construção da aprendizagem.


Metodologia

A iniciativa para a realização deste projeto partiu da percepção da professora em relação ao baixo rendimento de seus alunos em sala de aula. A partir desta necessidade e com base nos registros de avaliação dos anos anteriores foram estabelecidas algumas metas a serem cumpridas, tais como: ler em voz alta para os alunos todos os dias, fazer com que os alunos lessem um livro por semana, estimular o reconto das histórias lidas em sala de aula, organizar atividades individuais e coletivas de produção escrita e estruturar um projeto coletivo de produção de um livro.
Para a concretização do projeto será necessário a organização de espaços apropriados para as novas atividades. Assim, os acervos que estão guardados e sem acesso por parte dos alunos ganharão um espaço adequado com mesas e armários. Para tornar a nova biblioteca mais atraente, almofadas, pufes e fantoches passarão a fazer parte da decoração.
Os pais serão convidados a conhecer o projeto e incentivados a ler para os filhos ou a pedir que as crianças recontem as histórias lidas na escola.

Avaliação
Todas as atividades de leitura e escrita realizadas na escola serão registradas pelos professores por meio de planilhas subdivididas por itens de avaliação. Nos exercícios de produção de texto, serão observadas a pontuação, a ortografia, a organização do enredo, as características do gênero proposto e a sequência temporal. Para os menores que ainda não são alfabetizados, a avaliação se dará por meio de ditado com a finalidade de verificar se a criança avançou ou não no conhecimento sobre o sistema de escrita. As planilhas serão discutidas e analisadas nas reuniões pedagógicas, assim como os avanços e as dificuldades de cada grupo de alunos, para planejar em conjunto o desenvolvimento de novas atividades e os programas de formação dos docentes. Ao fim de cada semestre, os textos produzidos pelos alunos poderão se transformar em capítulos de um livro coletivo.
Este objeto de aprendizagem foi desenvolvido a partir da teoria da aprendizagem de Vygostky, que defende que as atividades pedagógicas devem contar com a participação ativa dos sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com esta teoria, o sujeito acaba por ser o resultado da sua própria atividade e se orienta por motivos pré-estabelecidos. E é justamente neste contexto de interação que entra o papel do professor como mediador do ato educativo, uma vez que a sua função é planejar as atividades a serem desenvolvidas com base em objetivos claros e bem definidos. Assim, é possível promover uma aprendizagem significativa capaz de ampliar o nível cognitivo dos aprendizes.
Ainda de acordo com Vygostsky e a sua teoria histórico-cultural da actividade, toda atividade humana é mediada pelo uso de ferramentas, que são fruto da criação e transformação humana, por isso assumem grande relevância na maneira como o indivíduo se relaciona com o mundo real, como controla o seu comportamento e como se relaciona com os outros indivíduos.

Referências Bibliográficas

VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1998.
VIGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 1989.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011



Abaporu

Ou se tem grandeza de tamanho,
ou se se é pequeno de ideias
tristeza e melancolia são velhas companheiras
neste vasto sertão de incertezas
e memórias perdidas.

Sinuosas as formas que apontam
o caminho acidentado
meu corpo também disforme
já não é capaz de seguir em frente
em busca de sonhos não alcançados

E nesta incansável batalha
em busca de não se sabe o quê
sigo inquieto e ofegante
sempre errante
À procura de um porquê.

O homem quer transar com aquele fogo
A mulher quer amor, carinho e não um ogro
O homem trai e não se esvai
A mulher com peso na consciência desiste e sai
A mulher quer um príncipe encantado
O homem uma Barbie para levar para todo lado
A mulher gosta de literatura
O homem sempre olha a mulher nua
O homem bebe cerveja a toda hora
A mulher prefere o batom sabor amora
O homem é um “galinha”
A mulher tudo consegue fazendo uma carinha
A mulher sempre tem carinho
O homem só quer beber mais um pouquinho
Nem todos os homens são desse jeito
Mas todas as mulheres procuram o cara perfeito.




segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Uma cartomante no Blog

A Cartomante
Rogério diz a Jeferson que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia.
Era a mesma explicação que dava a bela Denize ao moço Taiguara numa segunda-feira de janeiro de 2011, quando este ria dela, por ter ido anteriormente consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outros motivos.   — Ria, ria.
Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a colocar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, arrumou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Taiguara, rindo.
— Não diga isso, Taiguara. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Taiguara pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Taiguara podia saber, e depois...
— Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na AV. Vicente Pigatto, não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Taiguara riu outra vez:
— Tu acreditas de verdade nessas coisas? Perguntou-lhe.
Foi então que ela disse-lhe que havia um fundo de verdade em tudo isso. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhou coisas que faziam muito sentido. E o que mais? A prova é que ela agora estava mais tranqüila e satisfeita.
Percebi que ele ia falar, mas se calou. Não queria tirar dele as fantasias. Também ele, quando criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram.
No dia em que deixou de lado toda essa superstição vazia, e ficando somente a realidade, ela, como tivesse recebido da mãe muitos ensinamentos envolveram-os na mesma dúvida, e logo depois em uma confusão mental total. Taiguara não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mais, porque negar é ainda afirmar, e ele não demonstrava a descrença; diante do mistério, satisfeito balançou os ombros, e saiu andando.
Afastaram- se alegres, ele mais que ela. Denize percebia que era amada; Taiguara, não só estava alegre, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se envaidecido. A casa do encontro era na antiga Alameda do Santuário, onde morava uma conhecida de Denize. Esta desceu pela Rua 30 de novembro, na direção da Praça, onde residia; Taiguara desceu pela rua da Caixa Federal, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Marcos, Taiguara e Denize, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Marcos seguiu a carreira Militar. Taiguara também entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo político; mas o pai morreu, e Taiguara preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1971, voltou Marcos da Capital Porto Alegre, onde se casou com uma mulher formosa e boboca; abandonou o militarismo e veio tirar onda de advogado.
Taiguara conseguiu-lhe casa para os lados de Santos Anjos, e foi contente recebê-lo.
— É o senhor? Falou Denize, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo, falava sempre do senhor.
Taiguara e Marcos olharam-se com carinho. Eram amigos de verdade.
Depois, Taiguara confessou para si mesmo que a mulher do Marcos não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e com delicados gestos, olhos calmos, boca fina e provocativa. Era um pouco mais velha que eles: uns trinta anos, Marcos vinte e nove e Taiguara vinte e seis.
Entretanto, o corpo forte de Marcos fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Taiguara era  ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a experiência adquirida com o tempo, como os olhos de águia, que a natureza dá a alguns para adiantar os anos. Nem uma coisa, nem outra.
Uniram-se os três. A convivência  os aproximou intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Taiguara, foi uma tragédia, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Marcos cuidou do enterro, das homenagens e do inventário; Denize tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
A partir daí chegou ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. O cheiro feminino: era o que ele absorvia nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio.
 Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Taiguara ensinou-lhe o jogo de truco e a canastra que jogavam às noites; —ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as coisas iam bem. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Denize, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de fazê-lo marido, as mãos frias, as atitudes insanas.
Um dia, estando ele de aniversário, recebeu de Marcos uma rica gravata de presente e de Denize apenas um cartão com um simples cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração, não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras comuns; mas há simplicidades sublimes, ou, pelo menos, agradáveis. O velho barco “La Veloce Navegacione Italiana” da praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro importado do Peron.
Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam.
Taiguara quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Denize, como uma cobra, foi envolvendo ele, invadindo-o todo, ficou encantado, morrendo de amor. Ele ficou estonteado e dominado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura, mas a batalha foi curta e a vitória fantástica. Adeus, pudores! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de gramas e pedras, sem sofrer nada mais que algumas saudades, quando estavam longe um do outro. A confiança e estima de Marcos continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Taiguara uma carta anônima, que lhe chamava de imoral e desleal, e dizia que a aventura era sabida de todos. Taiguara sentiu medo, e, para desviar as suspeitas, começou a ir menos à casa de Marcos. Este lhe notou as ausências. Taiguara respondeu que o motivo era uma paixão fútil de rapaz. Inocência gerou esperteza. As ausências prolongaram se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os favores do marido, para tornar menos dura à conversa do ato.
Foi por isso que Denize, desconfiada e covarde, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa da atitude de Taiguara.
Vimos que a cartomante trouxe-lhe a confiança, e que o rapaz arrependeu-se por ter feito o que fez. Passaram algumas semanas. Taiguara recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser ameaça da virtude, mas ciúme de algum pretendente; tal foi à opinião de Denize, que, por outras palavras mal empregadas, formulou este pensamento:
— a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Taiguara ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Marcos, e o desastre viria então sem remédio. Denize concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo a carta para comparar a letra com as das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a ou rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Marcos começou a mostrar-se triste, falando pouco, como desconfiado. Denize mais que depressa contou a Taiguara, que ficou apavorado e trêmulo. A opinião dela é que Marcos devia tornar a casa deles, apalpar o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Taiguara discordava; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais era valido precaver, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram maneiras de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Taiguara um bilhete de Marcos: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Taiguara saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava assunto particular, e a letra, fosse realidade ou ilusão, parecia trêmula. Ele combinou todas essas coisas com a notícia antecipada.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos apavorados.
Imaginariamente, percebeu um pequeno drama, Denize contida e chorosa, Marcos indignado, pegando a caneta e escrevendo o bilhete, certo de que ele ajudaria, e esperando-o para matá-lo. Taiguara estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso odiava-lhe a ideia de recuar, e foi andando. No caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Denize, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais possível; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Marcos conhecesse tudo. A mesma interrupção das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Taiguara ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas, ou então, —o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Marcos.
"Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê?
Era perto de uma hora da tarde. A ansiedade crescia minuto a minuto.
Tanto imaginou o que se iria passar que chegou a crê-lo e vê-lo.
Positivamente, tinha medo. Chegou pensar  em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a ideia, abatido, e seguia, acelerando o passo, na direção do Largo dos Pinheiros, para entrar num táxi. Chegou, entrou e mandou seguir rapidamente. 
"Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso ficar neste estado..."
Mas a mesma agilidade veio agravar-lhe o entusiasmo. O tempo passava rápido, e ele não tardaria a encontrar o perigo. Quase no fim da Rua sete de setembro, o táxi teve de parar, a rua estava interditava em função de um acidente com uma moto. Taiguara, pensou consigo, deu valor ao obstáculo, e esperou. Durante cinco minutos, percebeu que ao lado esquerdo, atrás do táxi, ficava a casa da cartomante, a quem Denize consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto ver a lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e cheias de curiosos observando o movimento na rua.
Dirigia-se a casa do indiferente Destino.
Taiguara abaixou-se no táxi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das classes morais surgiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O taxista propôs-lhe voltar à primeira rua, e ir por outro caminho: ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para olhar a casa... Depois fez um gesto descrente: era a ideia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, o pensamento desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco o moveu outra vez, mais perto, fazendo uns movimentos homocêntricos... Na rua, gritavam os homens:
— Vamos terminar logo com isso!! Você tem de arcar com os prejuízos!
Daí a pouco estaria removido à barreira. Taiguara fechava os olhos, pensava em outras coisas: mas a voz do marido sussurrava-lhe a orelhas as palavras da carta: "Vem, já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia.
A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar. Taiguara se encontrou diante de caso sem solução... pensou rapidamente no inexplicável de tantas coisas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários: e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a filosofia... " Que perdia ele, se... ?
Encontrou-se na calçada, ao pé da porta: disse ao taxista que esperasse, e rápido entrou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus gastos pelos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada.
Subiu e bateu. Não aparecendo ninguém, teve a ideia de descer; mas era tarde, a curiosidade lhe era muita, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três vezes. Veio uma mulher; era a cartomante.
Taiguara disse que ia consultá-la, ela fez entrar.  Subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal iluminada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos.
Velhos móveis, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante o fez sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Taiguara. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas longas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos escuros e agudos. Colocou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande medo...
Taiguara, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu: disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez nas cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuidadas; baralhou-as bem, trespassaram os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a abri-las. Taiguara tinha o olho nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Taiguara inclinou-se para dizer umas palavras. Então ela disse-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria a ales; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não satisfeito, era imprescindível muita cautela: havia muita inveja e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Denize. . . Taiguara estava abismado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora me trouxe paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta se levantou, rindo.
— Vá, disse ela; vá, rapaz enamorado...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Taiguara estremeceu, como se fosse à mão da própria fada, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com uvas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que sujavam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Taiguara, ansioso por sair, não sabia como pagar; ignorava o preço.
— Uvas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas uvas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Taiguara tirou uma nota de dez reais, e deu-lhe. Os olhos da cartomante brilharam. O preço comum era dois reais.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá, tranquilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na bolsa, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Taiguara despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com o pagamento, tornava acima, cantarolando uma canção. Taiguara encontrou o táxi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu rapidamente.
Tudo lhe parecia agora melhor, pareciam ter outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus medos, até achou infantil; recordou os termos da carta de Marcos e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave, gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao taxista.
Pensava consigo como iria explicar a demora ao amigo, imaginou qualquer coisa; parece que desenvolveu também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, permaneciam na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério cercava-o. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo envergonhado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, rapaz enamorado; e no fim, ao longe, a canção da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Praça, Taiguara olhou para a igreja, estendeu os olhos para fora, até onde a torre e o céu dão um abraço infinito, e teve assim a sensação de um futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Marcos. Desceu, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Marcos.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Marcos não lhe respondeu; tinha as aparências desarrumadas; fez-lhe sinal, e foram para uma sala interior. Entrando, Taiguara não pôde abafar um grito de terror: — ao fundo sobre o sofá, estava Denize morta e ensangüentada.  Marcos pegou-o pela goela, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
FIM